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INTRODUÇÃO
A vontade de quem não sabe sonhar é cega e limitada.
Sem os devaneios da vontade, a vontade não é verdadeiramente
uma força humana, é uma brutalidade.
Gaston Bachelard
(BACHELARD, 2001, p. 75)
A problemática da motivação é muito vasta e tem sido abordada por vários campos da filosofia - como a ética e a moral -, da psicologia e da pedagogia. Grandes pensadores discutiram a questão da motivação, em diferentes períodos históricos, dentre os quais podem ser citados Aristóteles (1941), Tomás de Aquino (1947), Thomas Hobbes (1962), John Locke (1961), David Hume (1955), William James (1890) e Sigmund Freud (1922, 1943), e, entre os educadores, destacamos Paulo Freire (2000), Moacir Gadotti (1992, 2001) e Nelson Piletti (1987). Uma revisão exaustiva deste tema, considerando as diversas correntes de pensamento, estaria fora do escopo deste trabalho (EDWARDS, 1972. pp. 399-409). Sendo assim, optou-se, nessa introdução, por tentar definir, da forma mais objetiva possível, em meio a tantos caminhos que se bifurcam a partir do termo motivação, o sentido que lhe será atribuído, acentuando alguns de seus aspectos básicos, de modo a facilitar o leitor a acompanhar o desenvolvimento do trabalho.
É inegável que a motivação é essencial para toda e qualquer atividade humana. Em particular, do ponto de vista do educador, não é possível afirmar que um determinado sujeito esteja motivado para aprender algo, sem que o primeiro tenha sido capaz de identificar, no segundo, um certo grau de consciência do valor do aprendizado e do crescimento intelectual. Aproveitando as palavras de um poeta brasileiro, talvez se possa afirmar que a essência da motivação, compreendida como uma necessidade básica do homo sapiens - desse ser racional que busca se educar - reside na sua capacidade de “cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz” (GONZAGUINHA, 1999). Esse é o ponto de partida do presente estudo.
Por outro lado, sentimos a necessidade, dada a natureza do tema escolhido, de deixar registrado, nessa introdução, algumas palavras sobre nossa própria motivação para a pesquisa sobre essa temática. Ela parte, essencialmente, de nossas experiências pessoais no magistério.
Uma permanente auto-avaliação de nosso trabalho, como professora regente de turmas do primeiro e segundo segmentos do Ensino Fundamental, e uma observação atenta da postura dos colegas, com relação à prática docente, levaram-nos à conclusão de que o êxito alcançado no processo ensino-aprendizagem é muito maior quando este se dá através de situações que aumentam a motivação do aluno para aprender e a do professor para ensinar. Essa relação, indispensável à aquisição do conhecimento, é, como já dissemos, o fulcro desta monografia. Desse modo, nosso objetivo principal é destacar o papel da motivação como fator de extrema importância na concretização da aprendizagem, tanto para o corpo docente quanto para o discente.
Diante de turmas rotuladas como “desinteressadas”, preocupa-nos os motivos que poderiam estar levando os educandos a se comportarem ou reagirem desta maneira, e quais seriam suas necessidades e seus interesses reais.
Entendemos não ser possível ao educador satisfazer todas as necessidades de seus alunos, mas, no momento em que se dispõe a ser um dinamizador do processo ensino-aprendizagem, faz-se necessário que lance mão desse importante fator que é a motivação, a fim de lograr êxito e satisfação, tanto para si quanto para os estudantes.
Estando o professor motivado a desenvolver em seus alunos a capacidade de aprender, certamente os motivará na busca de novos conhecimentos, e estará criando condições mais favoráveis à aprendizagem.
Incomoda-nos constatar que ainda existam professores que se colocam como “tecnocratas da educação” e, como tais, não se envolvem de fato com os educandos, ignorando suas necessidades e aspirações, não fazendo uso de nenhum tipo de situação motivadora, desprezando o que poderia ser seu maior trunfo.
A motivação de ambos, alunos e mestres, está tão imbricada que é impossível tratar de uma sem abordar a outra. Podemos ir um pouco além e afirmar que a realização da aprendizagem, muito mais do que uma mera recompensa, é essencial na construção de um processo continuado de motivação-aprendizado, no qual o aluno se motiva cada vez mais a aprender mais.
Esperamos trazer à compreensão do leitor que a dificuldade em aprender pode ter origem na não-satisfação de necessidades básicas, o que acaba por interferir na vontade de aprender. Argumenta-se que o docente tem que estar preparado para perceber e saber como lidar com “o que falta” no grupo para o qual está ensinando.
Apresentamos, por último, um estudo de caso que procura mostrar a importância da motivação do estudante para o aprendizado, a partir do seu envolvimento numa atividade na qual ele passa a ser um ator essencial na criação de seu próprio material de estudo e na construção de seu conhecimento e, ao mesmo tempo, lúdica. Trata-se de uma análise comparativa, a partir da aplicação de um questionário a um grupo de alunos que participam da Oficina de Educação através de Histórias em Quadrinhos - EDUHQ, em funcionamento na UERJ desde novembro de 2001 - e a outro que dela não participa.
Esperamos com o presente trabalho, oferecer, tanto do ponto de vista teórico quanto prático, subsídios para uma maior conscientização dos docentes quanto à importância de sua motivação e quanto à necessidade de buscar novos caminhos didáticos e metodológicos que motivem também o aluno. Algumas ações concretas neste sentido são apontadas.
A monografia está estruturada do seguinte modo: no Capítulo 1, são apresentadas algumas das principais conceituações teóricas da motivação; é feito um comentário comparativo sobre a motivação para o aprendizado na sociedade pré-escolar e na sociedade contemporânea e um sumário de como a questão da motivação é contemplada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei no 9.394), sancionada em dezembro de 1996, destacando sua íntima relação com a preocupação de se formar cidadãos.
A questão da relação professor X aluno é discutida no Capítulo 2. Além de comentários sobre a relação em si, procuramos exemplificar os diversos tipos de professores e como eles lidam com a questão da motivação.
No Capítulo 3, consideramos a Oficina de Educação através de Histórias em Quadrinhos – EDUHQ – escolhida como nosso estudo de caso, ou seja, como laboratório para analisar como a motivação interfere na aprendizagem, em face de um projeto pedagógico original. Neste capítulo são apresentados também os resultados de nossa pesquisa e sua análise.
As considerações finais são apresentadas no Capítulo 4 e a bibliografia é apresentada no Capítulo 5. O modelo do questionário aplicado aos alunos encontra-se no Anexo.
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