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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ousarei expor aqui a mais importante,
a maior, a mais útil regra de toda educação:
é não ganhar, mas perder tempo.
J.J. Rousseau, Emilio, ou da Educação.
(Apud RONÁI, 1995).
Nessa monografia fizemos um apanhado geral de conceitos teóricos formulados por pesquisadores e psicólogos a respeito da motivação. Passamos pelos motivos e pelas conseqüências de suas realizações e frustrações. Tocamos na questão da relação professor ´ aluno, mostrando quanto a motivação pode facilitar o processo de aprendizagem e ajudar a melhorar a relação entre docente e discente. Finalmente, chegamos a um exemplo real de como uma mudança na postura do educador, no modo de se lidar com a educação e de valorizar a interdisciplinaridade dos conteúdos pode aumentar a motivação dos alunos e, conseqüentemente, melhorar sua aprendizagem e ampliar sua bagagem cultural. Trata-se da Oficina EDUHQ, objeto de nossa pesquisa, onde percebemos quanto a arte, como forma de expressão, permite fazer releituras múltiplas do mundo, dos conceitos aprendidos na escola e rearticulá-los através dos desenhos em quadrinhos.
Ao final deste trabalho não poderíamos deixar de considerar aquilo que mais chamou nossa atenção ao confrontar os dois grupos de alunos observados. O grande diferencial foi o que apontaram como fator fundamental para tornar a escola mais motivadora: “o modo dos professores darem aulas”. Desta forma, tomamos consciência do quanto é urgente proporcionar aos alunos novas experiências, novos contactos, novas formas de adquirirem conhecimentos, de aprofundar conceitos, bem como novas formas de expressar sua compreensão.
Seria pretensioso de nossa parte achar que o assunto da motivação e as formas de torná-la realidade se resumem a este trabalho, pois muito ainda há para ser pesquisado, discutido e analisado a respeito do assunto. As questões abertas do questionário, que foi aplicado em nossa pesquisa, podem ainda ser analisadas de forma mais sistemática, usando outro tratamento estatístico.
Resta ainda um outro ponto merecedor de atenção, que deveria ser considerado em pesquisas futuras. Ele diz respeito ao motivo último que levou os alunos que participam da Oficina EDUHQ a apontarem a mudança na práxis pedagógica como fator de extrema relevância para melhoria da motivação em sala de aula. O que, em última análise torna esse grupo tão diferente do grupo controle? No capítulo anterior, argumentamos que este fato deve-se ao contacto direto e diferenciado do grupo experimental com os pesquisadores. Entretanto, embora estejamos convencidos de que este é realmente o fator determinante, do ponto de vista estritamente lógico, pode-se ainda ponderar que outras peculiaridades desses alunos possam ser determinantes. Por exemplo, o fato de terem habilidades artísticas teria alguma influência na maturidade do grupo ou na opinião dada, quanto à urgência de se mudar o modo dos professores darem aula? Ou esta opinião estaria atrelada simplesmente ao fato de participarem da Oficina EDUHQ, onde têm aulas diferenciadas, mais dinâmicas, com menos alunos que numa sala de aula “comum”? Além disso, existem outras variáveis que poderiam ser submetidas a um controle mais fino, escolhendo-se, por exemplo, como grupo controle, alunos com idades o mais próximo possível das do grupo experimental, bem como interesses e habilidades comuns, inclusive as artísticas. Deste aprimoramento da pesquisa aqui relatada pode-se chegar a conclusões enriquecedoras para o cenário da educação.
Levando-se em conta que, na Oficina EDUHQ, os conhecimentos são transmitidos de forma muito dinâmica, informal e prazerosa, os alunos demonstram sempre muita vontade em aprender, o que nos leva a concluir que, quando não há imposição de idéias e o aluno pode experimentar para então recriar, quando não há cobranças excessivas e desnecessárias, o aprendizado se dá de maneira mais efetiva e acaba sendo mais eficiente e duradouro.
Iniciativas análogas à da Oficina EDUHQ são possíveis de serem reproduzidas dentro das escolas, mesmo prescindindo dos pesquisadores num primeiro momento, já que elas possuem os demais elementos para isso. Valorizar a igualdade de condições e reciprocidade que caracterizam o diálogo entre professor e aluno, assim como o contacto informal com os educadores, num clima de camaradagem entre “instrutor” e “aprendiz”, levam a uma aprendizagem mais significativa e mais duradoura, capaz de provocar mudanças, para as quais a escola deve estar aberta. Também o contacto com pesquisadores trás o aluno para mais perto da Ciência, percebendo os conteúdos de sala de aula não como coisas desconexas da vida, mas como parte dela. O aluno, ou melhor, a pessoa passa a perceber que os assuntos tratados na escola têm ligação direta com a vida, fazem parte dela.
Vale então sugerir que, num primeiro momento, mesmo sem a presença dos pesquisadores dentro das escolas, no seu cotidiano, sejam os conceitos trabalhados de forma interdisciplinar, perpassando os conteúdos de todas as disciplinas, utilizando-se de todas as formas de arte para dar vazão às demonstrações de assimilação de novos conceitos. Para tanto é necessária a articulação entre os professores das diferentes áreas com os de Educação Artística, que passariam a ter um papel bem mais relevante do que têm hoje, no atual contexto da educação, no qual, freqüentemente, são vistos quase que como “um mal necessário”. Caberia à equipe técnico-pedagógica da escola a realização dessa articulação, buscando a conscientização do corpo docente para a importância desse “fazer coletivo”.
Outra iniciativa bastante válida e que merece ser destacada, à luz do principal resultado de nossa pesquisa, é o Projeto da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência, denominado SBPC VAI À ESCOLA, que leva gratuitamente pesquisadores de diversas áreas do saber às escolas de ensino médio, públicas ou particulares, aproximando o aluno da Ciência e do fazer científico, mostrando que aulas diferenciadas são possíveis e que a Ciência pode também ser fonte de prazer intelectual.
Também programas como os de “Vocação Científica” – os PROVOC’s – e o “Jovens Talentos” – este último financiado pela FAPERJ só para escolas públicas – promovidos por instituições sérias e preocupadas com o desenvolvimento intelectual dos alunos, como a FIOCRUZ, as Universidades públicas, os centros de pesquisas, como o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) entre outros, têm a mesma intenção, isto é, de iniciar o aluno no mundo da pesquisa científica, motivando-o no prosseguimento dos seus estudos.
Assim como em todas as áreas da vida, a motivação é essencial para a concretização de ações, sejam aspirações ou deveres. Tudo que é feito com prazer – este prazer que vem da motivação, quando temos motivos para agir – dá mais sentido à vida. A escola, mais que uma obrigação social, deveria ser um lugar de extremo prazer, onde as pessoas fossem para ser feliz, feliz por interagir com outras pessoas e por aprender a se deliciar com “a beleza de ser um eterno aprendiz”.
Estamos realmente convencidos de que a motivação é extremamente relevante para o sucesso do processo de aprendizagem escolar, pois estar motivado é ter prazer em fazer algo e o prazer é o estímulo da vida.
Para maiores detalhes, consultar o endereço: www.cbpf.br/sbpcvaiaescola.
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