Professor Pardal, Dexter e seu laboratório, Tintim
e o Professor Girassol, super-heróis radioativos etc. Há anos,
desenhos animados e histórias em quadrinhos abordam temas ligados à
ciência, seja através de um fato, ou por meio de um personagem
cientista. Para analisar esse meio não convencional de divulgação, o
Centro de Estudos do Museu da Vida/Fiocruz promoveu, em 16 de
setembro, a mesa-redonda Ciência e quadrinhos. "A ciência pode
estar presente em várias manifestações de cultura popular, inclusive
nos quadrinhos", diz o historiador Pedro Paulo Soares, do Museu da
Vida. "Nossa preocupação é fazer com que ela atinja o público em
geral de forma compreensível".
Essa também foi a questão levantada pelo ilustrador
Sérgio Magalhães, da Fiocruz. Segundo
ele, a maior dificuldade dos desenhistas é passar uma imagem
complexa como a científica para alguém que não conhece o que
está sendo representado. "O desenho sempre vai ser uma síntese
daquilo que o cientista imagina", revela. Para ele, as ilustrações
devem acompanhar os avanços científicos. "A idéia que se tinha
sobre a imagem de uma célula há 20 anos pode não ser a mesma
da que se tem hoje", explica.
Para a física Andreia Guerra, professora do Colégio
Pedro II, muitos quadrinhos revelam uma falsa imagem do cientista e
isso acaba ficando gravado no inconsciente coletivo. "Alguns de meus
alunos falam dos cientistas como se fossem loucos que não tinham
nada para fazer e acabaram desenvolvendo ciência", conta a
professora. "Nas histórias em quadrinhos, os cientistas aparecem
como tolos, distraídos, fora de contexto, que vivem imersos no seu
trabalho e criam equipamentos exóticos".
Na contramão dessa tendência, estão os trabalhos do
jornalista e ilustrador João Garcia, do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas, e do biólogo Júlio César Corrêa, que participa do
projeto Educação em História de Quadrinhos (EDUHQ) da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro. Ambos mostram que, se é possível fazer
quadrinhos sobre ciência com humor, crítica e principalmente
seriedade.
Garcia vem retratando o dia-a-dia da produção
científica desde a década de 1980. As tiras diárias Os cientistas,
registradas no jornal Correio Popular, de Campinas, apresentam
personagens como Zilda, Zago, Interneto e Doutor Ego, que mostram o
comportamento de cientistas e pesquisadores. "Um dos exemplos de
como se pode atuar nessa área de forma séria foi o furo de
reportagem de uma de minhas tirinhas, que anunciou, em primeira mão,
a descoberta de uma nova espécie de bactéria em outubro de 2000",
lembra ele.
O trabalho projeto EDUHQ, que começou em fevereiro,
vem sendo realizado por alunos do ensino público. Cada participante
cria um ou mais personagens e histórias que falam sobre química,
física, matemática etc. A iniciativa, apadrinhada pelo cartunista
Francisco Caruso, deu certo. Hoje, as tirinhas são vinculadas em
outros programas de educação e já chegaram a ser publicadas nas
provas de vestibular da Uerj.
O historiador Pedro Paulo Soares lembra que a
ciência sempre esteve presente nos desenhos e quadrinhos. "Até a
década de 1950, a ciência era vinculada à idéia de progresso e
perigo", explica. Ele conta que nessa época existiam nos Estados
Unidos pequenas revistas produzidas e distribuídas para ensinar às
crianças como reagir em caso de ataques nucleares. "A partir dos
anos 60, com a crise dos mísseis em Cuba, surgiram os super-heróis
radioativos, como o Homem Aranha e o Hulk". |