Oficina de Educação Através de Histórias em Quadrinhos

     Marshall McLuhan, o renomado teórico da Comunicação, revisitando o mito de Narciso, atribuiu a paralização dos seus sentidos diante da imagem refletida nas águas calmas de um lago, à total incapacidade de compreender o fenômeno da reflexão da luz. Assim, diferentemente da interpretação usual, o agente da anestesia sensorial foi o despreparo para processar a informação recebida e não a embriaguez com a própria beleza. Segundo essas idéias, cada vez que nos defrontamos com uma mídia cujos procedimentos não podemos assimilar, nosso sistema nervoso, do qual a mídia se faz extensão, protege-se contra a saturação de sua excitação e se torna impenetrável a qualquer outro assédio externo. Mergulhados num cotidiano densamente povoado de mensagens e apelos veiculados por poderosa, complexa e velocíssima mídia, a reação narcisista no sentido de McLuhan torna-se regra para os cidadãos comuns. O conteúdo das mensagens pouco importa mas sim a natureza do seu veículo: compreende-la é essencial para superar a paralisia.

     A moderna mídia incorpora doses crescentes de inovações tecnológicas que por sua vez derivam de maiores conhecimentos científicos. As tirinhas do Professor F. Caruso e da turma da EDUHQ atuam como poderosa vacina, desenvolvendo no espírito naturalmente curioso e questionador, sobretudo dos jovens, os anticorpos necessários para a sobrevivência no ambiento fortemente dominado por meios de comunicação sumamente agressivos. Trazendo os fenômenos físicos para o consciente, seja pela simples descrição seja pela reflexão mais elaborada, as tirinhas cumprem aquele importante papel de proteção do sistema sensorial na medida que combatem a precondição da síndrome de Narciso: o despreparo para o confronto com o refinado cenário de provocações da mídia de alta tecnologia. Tenho a impressão de que essa idéia simples e engenhosa, usando um instrumento familiar e muito próximo dos jovens - os quadrinhos -, é um poderoso instrumento de comunicação científica, verdadeira revolução se comparada aos métodos convencionais de divulgação.

Alfredo Marques
Físico, CBPF

 

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