Até hoje, o modelo padrão – teoria na qual estão reunidas as forças eletromagnética, fraca e forte – passou com louvor nos testes a que foi submetido. Porém, ele tem limitações. Não indica, por exemplo, por que há três famílias (ou gerações) de léptons e quarks. Nem é capaz de explicar por que alguns léptons e quarks são tão mais pesados que seus companheiros. Experimentos recentes mostraram que os neutrinos têm massa, e isso cria para o modelo dificuldades que os físicos tentam agora driblar. Há muita expectativa em relação à detecção do chamado bóson de Higgs, uma partícula que seria a responsável pela geração das massas de todas as partículas, o que resolveria parte das limitações do modelo. Espera-se que isso ocorra com os experimentos no acelerador LHC (sigla, em inglês, para Grande Colisor de Hádrons), que promete entrar em funcionamento em 2007 no CERN.
O que falta descobrirUm século depois de a física incorrer no escândalo filológico de fraturar o átomo – na síntese perspicaz atribuída ao escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) –, unificar as quatro forças é ainda um sonho. O melhor candidato para isso é a chamada teoria de supercordas, que trata as partículas elementares não como pontos sem dimensão, mas sim como diminutas cordas. Cada modo de vibração dessas entidades representaria uma partícula elementar, assim como cada freqüência de vibração de uma corda de violino está associada a uma nota musical. O problema é que a teoria de supercordas prevê não só um novo zoológico subatômico, as chamadas S-partículas, mas também dimensões espaciais extras, além das três conhecidas (altura, largura e comprimento). Se uma S-partícula for detectada nas colisões de altíssimas energias do LHC, uma nova revolução estará batendo à porta da física. Será uma evidência de que os físicos descobriram a trilha – ainda estreita e escura – rumo à unificação final. Acreditase que o LHC também poderá testar se os quarks contêm subestruturas.
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LHC/CERN |
Talvez, 25 séculos depois dos primeiros questionamentos sobre a estrutura básica da matéria, os físicos cheguem a uma resposta definitiva. Ou, talvez, fenômenos e partículas inéditos surjam nas novas gerações de aceleradores. E aí uma nova era na física irá começar, forçando o homem novamente a se perguntar: “De que são feitas as coisas?”.