Pouco antes da descoberta do nêutron, uma crise entrou em cena. Motivo: o decaimento beta, processo em que um nêutron se transforma num próton e ‘cospe’ um elétron do núcleo. Mas algo intrigava os físicos. As contas do balanço energético dessa forma de radioatividade não fechavam. Faltava um resquício – desprezível, é verdade – de energia que não era observado nos experimentos. Para explicar essa diferença, o físico dinamarquês Niels Bohr (1885- 1962) chegou a propor uma heresia: a conservação de energia – popularmente conhecida como ‘nada se cria, tudo se transforma’, um princípio sagrado para os físicos – não valeria para esse fenômeno. Era um ato de desespero.
Senhoras e Senhores RadioativosEm 1930, uma carta do físico austríaco Wolfgang Pauli (1900-1958) começava com ‘Senhoras e Senhores Radioativos’. Nela, ele se desculpava por sua ausência num congresso e propunha a solução para o mistério: uma partícula sem carga, de massa possivelmente nula, responderia pela energia que faltava. A aceitação do neutrino – como foi batizado pelo físico italiano Enrico Fermi (1901- 1954), que a empregou para dar a primeira teoria satisfatória do decaimento beta – foi surpreendente. Teóricos passaram a empregar essa partícula- fantasma com entusiasmo, mesmo que ela só tenha sido detectada em 1955.
A AntimatériaEm 1928, as equações nas quais o físico inglês Paul Dirac (1902-1984) trabalhava revelaram o inusitado: a existência de partículas de carga positiva com massa igual à do elétron. Era a primeira evidência de algo que os físicos hoje aceitam com naturalidade: a antimatéria. Esse elétron positivo – batizado pósitron – foi recebido com desconfiança. Mas, em 1932, ele foi detectado pelo norte-americano Carl Anderson (1905- 1991). Pouco depois, percebeu-se que todas as partículas teriam sua correspondente antipartícula. Duas décadas depois, foram capturados o antipróton e o antinêutron. A antimatéria é parte da natureza, apesar de rara no universo atual.