Conclusões e Sugestões dos Grupos de Trabalho



Conclusões

A sociedade tem uma visão do cientista como um homem, de meia-idade e de comportamento anti-social, e de um meio de trabalho científico essencialmente masculino.

Além disto existem estereótipos em relação a aptidões e atividades profissionais e de imagem, e de como deve ser o aspecto de uma mulher cientista. Esta imagem não atrai as jovens, particularmente na faixa dos 15-17 anos, quando estas decidem qual a carreira que devem seguir.

Tendo em conta que as variações de capacidades entre indivíduos do mesmo sexo podem ser equivalentes às que existem entre indivíduos de sexos diferentes, é um equívoco afirmar que o sexo feminino carece de aptidões para se desenvolver em algumas áreas da ciência. Estas interpretações distorcidas de possíveis diferenças biológicas, como a passividade da mulher, se manifestam na influência da família, na escola e na sociedade em geral, e causam uma presença muito menor de mulheres na área das ciências, principalmente exatas e tecnológicas.

As mulheres enfrentam toda sorte de obstáculos no ingresso, permanência e crescimento profissional dentro de uma carreira em ciências. Entre estes estão:



















Sugestões


Várias ações foram propostas para combater e eliminar estereótipos, e para abordar os problemas diagnosticados:



  1. Sensibilizar pesquisadores, ilustradores, editores de revistas de divulgação científica com relação ao problema e para estarem atentos para que estereótipos relativos à condição feminina não sejam perpetuados.



  1. A mulher cientista da região latino-americana deve contribuir na realização de ações de promoção e fomento, visando a que as meninas e jovens do sexo feminino se encaminhem para carreiras científicas.



  1. Garantir uma educação básica de qualidade para todos, independente do gênero, entretanto, com a consciência de gênero. Assim sendo, melhorar o ensino básico de ciências e incrementar também o ensino universitário com mais estímulo para o ingresso das mulheres nas áreas científicas. Para minimizar a influência de visões estereotipadas na escolha da carreira, sugere-se a criação de um ciclo básico na formação universitária, comum a todas as carreiras.

  1. Mobilizar pesquisadoras mulheres a estarem mais presentes na mídia, bem como a tornar as colegas mais conscientes de que têm que se preparar para fazer divulgação científica, considerando a importância do impacto de modelos positivos de atuação de mulheres cientistas para adolescentes.

  1. Incentivar programas do tipo jovem cientista, encorajando novos valores para o enfrentamento dos estereótipos.



  1. Motivar e induzir as meninas para que se encaminhem para carreiras científicas e, simultaneamente, educar os meninos para que compartilhem com elas o entusiasmo associado à perspectiva de carreira cientifica.



  1. Aumentar a participação de mulheres cientistas em eventos do tipo “Semana de C&T” e outros projetos de divulgação científica.



  1. Realizar ações de divulgação e popularização das Ciências com perspectiva de gênero, nas escolas e nos meios de comunicação. Promover a educação vocacional nas escolas, com maior integração Escola-Universidade-Centros de Pesquisa. Iniciativas: (1) criar programas que levem os jovens a freqüentarem Universidades e Centros de Pesquisa; (2) programas que levem profissionais às escolas de ensino básico; (3) ampliar programas dos órgãos de fomento para o envolvimento de crianças e adolescentes com temas científicos e tecnológicos.



  1. Promover programas que permitam acesso a novas tecnologias.



AÇÕES EM POLÍTICAS PÚBLICAS



  1. Criar mecanismos de ação conjunta entre os órgãos governamentais responsáveis por políticas de gênero com aqueles responsáveis por C&T.



  1. Estabelecer o direito das bolsistas de doutorado e mestrado de usufruir a licença maternidade paga, estendendo a duração da bolsa e os prazos para a apresentação das respectivas teses e dissertações.



  1. Solicitar que o currículo padrões (e.g., currículo Lattes) inclua um item destinado a fornecer informação sobre o número de filhos e as datas de seu nascimento.



  1. Garantir o cumprimento da lei de creches.



  1. Solicitar que nos congressos científicos se ofereça um serviço de cuidado de crianças.



  1. Estabelecer “subsídios de reinserção” (no estilo dos outorgados por Daphne Jackson Trust da Inglaterra) para que as mulheres que se desvincularam do sistema científico por razões familiares possam retomar sua carreira de pesquisa. Como citado no sítio web de Daphne Jackson Trust: “As mulheres qualificadas que estão desempregadas ou subempregadas por haver interrompido suas carreiras por causas familiares representam uma terrível perda de talento e um desperdício do investimento na sua educação inicial. Muitas destas mulheres estão desejosas de retornar a suas carreiras originais ou a um novo campo de atividade para o qual sua educação inicial é relevante, desde que se possa oferecer uma recapacitação e que elas possam, ao menos, durante um tempo, trabalhar em tempo parcial”.



  1. Estimular, financiar e divulgar amplamente pesquisas sobre gênero em ciência e tecnologia, particularmente nas ciências exatas, naturais e biomédicas. Realizar estudos comparativos entre mulheres da América Latina.



  1. Estudar trajetórias de vida de mulheres cientistas agrupando-as por idade e seguindo-as ao longo do tempo.



  1. Promover conferências periódicas sobre gênero com participação de cientistas e de pesquisadores e pesquisadoras de gênero.



  1. Criar prêmios de excelência científica para mulheres.



  1. Reforçar na mídia e na literatura escolar a imagem da mulher cientista. Fazer gestões para obter fundos destinados à publicação de teses, monografias, histórias de vida de mulheres que se destacaram na Ciência, em nossos países.



  1. Estimular a criação de assessoria institucional para questões de gênero.



  1. Solicitar às sociedades científicas que se criem comissões de gênero para dirigir estas propostas, controlar sua implementação, ajudar nas denúncias de assédio moral e sexual e na divulgação dos problemas encontrados para possibilitar mudanças nas condutas sociais.





AÇÕES AFIRMATIVAS



  1. Aumentar e garantir a representatividade de mulheres, de forma proporcional em relação aos profissionais com o mesmo nível de excelência, em comissões, comitês e conselhos de agências de fomento e de órgãos representativos governamentais e institucionais.



  1. Considerar fundamental que os organismos de decisão na área de Ciência e Tecnologia estabeleçam cotas para mulheres, no que se refere ao apoio a projetos de pesquisa e de bolsas no país e no exterior, bem como estabelecer diferentes variantes de bolsas compartilhadas, definir limites de idade etc.



  1. Incluir nas agendas das sociedades científicas de cada área e na agenda das Sociedades para o Progresso da Ciência de cada país, os temas de gênero e também as ações de promoção e divulgação das histórias de vida e trajetórias profissionais de mulheres cientistas que se destacaram na América Latina e no Caribe. Criar a Rede Latino-Americana de Mulheres em Ciência e Tecnologia, com o objetivo de intercambiar dados, experiências, desenvolvimento de projetos conjuntos de pesquisa, criar uma pagina web e um Foro virtual de discussão, não só para debater assuntos relacionados com gênero, mas também para por em contato mulheres cientistas que trabalham em áreas comuns. Esta rede levará as idéias discutidas às instituições governamentais e se vinculará a redes de outras partes do mundo.

  1. Solicitar que os órgãos públicos competentes disponibilizem dados suficientemente detalhados, de modo a permitir a realização dos estudos mencionados acima.



  1. Criar em cada país da região os Capítulos Nacionais da Third World Organization of Women in Science (TWOWS) e integrá-los à Rede acima proposta.